Uma fatia de pão e um copo de vinho

Uma noite, num qualquer bar algarvio, sentado à mesa com o namorado da minha professora de História e rodeado de copos de imperial vazios, tive o meu maior acto de patriotismo até hoje. De peito feito, ainda sem metade dos pêlos que hoje ostenta, declarei guerra à Espanha e ao resto de Portugal! Mas em voz baixa, não fossem eles ouvir.

Na minha coragem ligeiramente alcoolizada, já me via de enchada na mão e sangue estrangeiro na cara! Qual William Wallace!

O Reino dos Algarves, assim tratado até à anexação por parte da República Portuguesa, podia e pode vir a ser o reino mais forte da Península Ibérica, e quiçá de Portugal!

Seguindo o exemplo da Catalunha, tenho em mente um plano para devolver o Algarve aos Algarvios! Vamos lutar pela nossa independência! Vamos mandar o Passos e o Costa para o país deles! 

As riquezas nós temos, são naturais e são nossas. O medronho, a cortiça, a laranja, o perceve, a sardinha! Está tudo lá! O turismo! Vamos deixar de pagar impostos aos capitalistas da capital! A economia não é problema, vamos ser a Suíça da Europa!

O passo seguinte é a guerra! Peguem nos cabos das vassouras! Peguem nos machados de guerra! Peguem naquela jarra feia mas bastante rija que a vossa sogra vos ofereceu no Natal! Vamos anexar a Andaluzia. Matamos os espanhóis e procriamos com as sevilhanas! Colocamos as crianças a trabalhar nas explorações de petróleo e na apanha do bivalve! A guerra é coisa feia, meus amigos! Alguém vai ter de morrer! Vai correr sangue! Vamos mostrar que não somos mansos!

Quando já todos nos respeitarem novamente, vamos trocar Alcoutim pelos concelhos de Odemira, Sines e Vila Nova de Santo André. Ninguém quer saber de Alcoutim mas o porto de Sines e o Badoca Park vão ser nossos!

O plano tem tudo para correr bem! Vamos mostrar o dedo do meio aos porcos capitalistas! A nós o que é nosso! ALGARVE! ALGARVE! ALGARVE!

Quando se trabalha num escritório onde existe uma impressora - das boas, atenção - que imprime os papéis de toda a gente há sempre alguém que manda imprimir um documento e nunca vai buscar. Ficam à espera. Depois alguém manda imprimir outro documento e vai lá, vê a impressão, pergunta de quem é e vai entregar.

Às vezes sou essa pessoa, que fica sentado à espera. Raramente sou o que pergunta.

Obrigado, colegas fofinhos!

Como macho que sou, só compro produtos que dizem "for men". Ah e tal cheira bem ou tem muitos nutrientes? Se não disser "para homem" não compro. 

Pelo que, não será de admirar que durante muitos anos tenha usado Linic e Axe e Adidas e afins, sempre para macho. Até experimentei Old Spice e sabão azul e branco mas não me convenceram. Old Spice, por exemplo, tem um gel de banho horrível com um cheiro tão forte que se entranha na roupa e não atrai raparigas, apenas moscas.

Repito, sou um péssimo cidadão. Nunca participei numa manifestação, a única greve em que me apresentei foi durante o ensino secundário e passei o dia a jogar matraquilhos, votei mais vezes para a associação de estudantes que para os cargos oficiais do governo português.

No próximo domingo vou voltar a não exercer o meu direito de voto. Não por dúvida, não por protesto - se fosse por protesto ia lá votar em branco, não por preguiça ou falta de vontade. Não vou votar porque sou mal visto pela sociedade! Estou a brincar. Não vou votar porque a minha situação não me permite. Estou a trabalhar e a morar em Lisboa mas como isto é uma situação provisória (tenho contrato até final do ano e sem trabalho não é fácil morar por cá) ainda tenho residência no meu Algarve, portanto, tinha de ir ao Algarve votar. Já existe opção para estudantes que se encontram longe de casa e até para emigrantes mas a minha situação não é ponderada pelo governo.

E não pensem que me importava de gastar 50 paus em gasóleo + uns trocos em portagens para ir votar no domingo mas estou ligado a uma equipa de futebol e temos jogo no domingo. Que me perdoem os comuns mortais mas gosto de honrar os meus compromissos. Se me comprometi a estar com a equipa hei-de estar sempre que me seja humanamente possível!

Posto isto, tenho visto alguns debates e lido algumas notícias e comentários. Nada de novo neste país político. Os políticos mais parecem meninos mimados na escola primária. 

Oh professor (sr. eleitor) o menino José fez asneiras e é da mesma cor do menino António!

Oh senhor professor, o menino Pedro também fez asneiras!

Entre as queixinhas e as birras já sabemos que nenhum deles há-de cumprir as promessas eleitorais...