Uma fatia de pão e um copo de vinho

Ser jovem trabalhador em Portugal tem destas coisas: ter de partilhar casa.

Com a namorada, com amigos, ou até com desconhecidos. No meu caso, partilho casa com desconhecidos. Vi dezenas de anúncios na Internet (falar em centenas não seria exagerado mas os meus níveis de exigência foram reduzindo as opções) até conseguir escolher um quarto e casa que me agradasse.

Se é perfeito? Obviamente que não. Trabalho a recibos verdes e perfeição é uma utopia que nos atiram à cara para nos obrigar a fazer sacrifícios e sonhar com uma vida melhor.

Trabalho no que gosto, tirei um curso e tenho um bom trabalho numa das maiores empresas da área em Portugal. Não sou ingrato para dizer o contrário. 

Mas vivo longe da casa dos pais, longe da família, longe dos amigos. Tudo por uma carreira, por um sonho.

Hoje em dia partilho casa. Não tenho condições para ter uma casa só para mim e consigo gastar o dinheiro que me resta para estar com os meus amigos e fazer coisas divertidas.

É esta a realidade a que me fui acostumando. Fazer esforços por uma carreira melhor. Ou apenas fazer esforços. Só saberei no final.

Actualmente (no trabalho escrevo com aquele acordo ortográfico manhoso mas no meu blog, enquanto bebo um copo de vinho e fumo um cigarro, só não escrevo a língua do Camões porque eu próprio já nasci mais tarde) partilho casa com mais duas pessoas. É uma casa porreira, espaçosa, num local que me dá jeito e os colegas são porreiros.

Se estaria melhor sozinho? Talvez. Mas estou bem assim.

O telemóvel toca, são 7h30, o despertador está preparado para daí a meia hora. Atendes ainda meio ensonado.

"- Então minha besta! Acordei-te?

- Grumpf...

- Váááááááá, tira esse rabo gordo da cama, seu grande estúpido!

- Já viste que horas são? Claro que estava a dormir... (as palavras arrastadas e baba a escorrer ainda pelo canto da boca)

- Preciso de uma cena. Diz aí umas músicas boas. Vamos ter uma festa em casa de um gajo e quero música portuguesa daquela má. Javardice e tal.

- E achas que eu te posso ajudar nisso?

- Não sejas modesto, TU és a pessoa que me pode ajudar nisto. Ahah!"

Isto é uma amizade boa, forte, saudável.

O rapaz animado às 7h30 da manhã está a estudar no Japão e a caminho de uma festa... Obrigado, amigo... patife!

Ontem foi cancelada a pelada semanal. Todas as santas segundas jogo à bola com uns amigos e ontem alguns tiveram de faltar e não jogamos. Esta tradição não devia ser quebrada. É um dos acontecimentos mais gratificantes da semana, de todas as semanas. Juntam-se uns amigos e amigos de amigos e uma bola. Grandes jogadas, golos bonitos, festejos efusivos, fintas mirabolantes!!! Quer dizer, por norma são gajos com uns quilos a mais a insistir que estão bem fisicamente e que tropeçam na bola às vezes. Mas o que importa é o convívio, a boa disposição, o companheirismo. É o nosso colega falhar um golo de baliza aberta e nós irmos lá chamar-lhe "pombinha" e elogiarmos os seus passes que vão sempre para fora. É o balizeiro sofrer três cuecas seguidas e as duas equipas se rirem, inclusive o balizeiro. É elogiar e insultar na mesma frase. É puxar o adversário porque somos amigos e reclamar quando ele nos puxa o braço e falhamos um golo. É chamar Maradona ao jogador menos dotado tecnicamente ou David Luiz a um careca. Isto sim, é bola!

PS: Como estive fora de Lisboa durante um ano e meio, tenho um péssimo registo: não marco um golo desde 2013... Já faltou mais para me chamarem "matador"...

Também terminou o mercado de transferências e nada de interessante.

O Jesus recusou vender o Derley. Lado positivo - tenho mais três meses para treinar piadas sobre este goleador! O Benfica preferiu emprestar o Rui Fonte ao Belenenses. Chegaram um russo, um brasileiro e um luso-guineense, para se juntarem a dois uruguaios e um alemão, na estratégia de apostar nos jogadores portugueses. Hoje estou cansado demais para falar sobre isso.