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Carta aos "homens do lixo"

por Marquês, em 21.06.12
«Caros "Homens do lixo",

Em primeiro lugar deixem-me dizer que sou a favor da vossa luta. Todo o trabalhador deve reinvindicar os seus direitos. Independentemente de concordar ou não convosco, lutem pelo que acham que é melhor para vocês ou morram a tentar! Gosto de ser do contra e se vocês estão contra alguma coisa, eu estou convosco! Ser do contra faz parte da minha natureza. Concordo com muita coisa, contudo, na maioria das vezes, estou contra. Por vezes só mesmo pelo prazer de estar contra. Estar contra é o contrário de estar morto. Se ficar muito tempo a favor, o meu sangue começa a burbulhar. Quando estou sozinho até sou capaz de me virar contra mim só para me sentir vivo.

Agora coisas sérias, fazer uma manifestação durante o Euro? Que idiotice. Reparei, ontem, que vocês "homens do lixo" estão em greve ou coisa assim. Disse-me a minha vizinha. Olhei então para a rua e vi que os caixotes do lixo estavam a rebentar pelas costuras e que havia sacos de lixo espalhados pela rua. À porta do meu prédio havia tanto lixo que para sair tinha de me desviar. Segundo a minha vizinha, aquilo estava assim há dias, só reparei ontem. Há dias que passava ao lado do lixo, possivelmente já me tinha desviado de lixo, mas só ontem reparei. E a explicação é óbvia: ontem não havia jogos do Euro.

Meus amigos, vocês acham mesmo que alguém repara no que quer que seja durante o Euro? Todos os dias leio notícias, vejo televisão e isso tudo. Coisas normais. Mas se me perguntarem sobre as notícias da semana vou dar-vos os resultados dos jogos do Euro, posso até enumerar os onzes de vários jogos. E é isso. Acho que o Verão já começou ou vai começar, mas que me importa isso? Dia 3 de Julho logo volto a actualizar-me. Pode rebentar uma guerra nuclear que eu só me apercebo dia 3 de Julho. Desde 8 de Junho que estou arredado do Mundo, Portugal pode estar em guerra que eu não sei de nada. Nem tenho lavado roupa, ando com os mesmos boxers há seis ou sete dias porque não consigo dispensar o meu precioso tempo para lavar roupa. Dia 3 de Julho volto ao Mundo real, até lá estou em "modo Euro". Por falar nisso, acho que hoje ao sair de casa não tropecei em lixo, se calhar alguém o recolheu ou desviou, ou na pior das hipóteses dormi fora de casa e nem me apercebi... Enfim, hoje joga Portugal e eu estou contra os checos.»

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Grande, Grande Shevchenko!

por Marquês, em 20.06.12
É com pena que vejo a notícia de que Andriy Shevchenko diz adeus à sua carreira de internacional. O fim era inevitável, Sheva já leva 35 anos e a condição física está longe do seu auge. Mas Sheva é a lenda viva do futebol ucraniano, pós-URSS. O capitão da selecção despede-se 17 anos depois, com 111 jogos e 48 golos, melhor marcador pelo seu país e segundo mais internacional de sempre. Talvez haja um jogo de despedida, talvez chegue à marca da meia centena de golos, talvez no futuro algum outro futebolista ucraniano ouse alcançar os feitos do eterno 7, mas de certo nunca mais vai haver Shevchenko vestido com as cores do seu país em jogos oficiais...


Shevchenko sempre foi dos meus jogadores preferidos. Só o conheci já em Milão, um avançado elegante, oportunista, trabalhador, inteligente, dotado de grande técnica e velocidade. Tornava o difícil fácil, aliás, para ele nada era difícil. Quer estivesse na pequena área ou no miolo do terreno, uma bola nos pés de Sheva era sempre um lance perigoso. Lembro-me de ver jogos em que os defesas pareciam parar para ver os golos de Sheva. Muitas vezes nem precisava olhar para a baliza ou tão pouco para os adversários, gostava de ver a redondinha no pé. A sua jogada mais característica diz muito sobre si - simples, humilde, inteligente e acima de tudo, eficaz - na cara do defesa, toque curto para o lado e remate ao poste mais distante, está feito mais um golo. Também gostava de pegar na bola perto de meio-campo e ir passando os adversários em velocidade, no contrapé, alternando toques curtos junto dos adversários e toques longos quando tinha espaço para correr. Shevchenko abandona a selecção com a mesma cara de jovem humilde e sonhador com que a abraçou em 1995, o jogador mais jovem a marcar pela Ucrânia, o jogador mais velho a marcar pela Ucrânia, o jogador que mais marcou pela Ucrânia. Um ídolo em Itália, um ídolo no seu país, um ídolo no futebol europeu. Nos videojogos de futebol era o meu talismã. Outros avançados estavam ali, pixelados no ecrã, mas Sheva era especial, nem precisava que eu tocasse nos botões para inventar jogadas e marcar golos. Até em "boneco" jogava em piloto automático e era uma verdadeira máquina! Ajudou as equipas por onde passou em 20 títulos, incluindo uma Liga dos Campeões, e deixou o seu nome na história dos melhores marcadores de Itália e da Europa. Faltou-lhe ser eleito o melhor do Mundo, foi terceiro em 2004, mas nós perdoamos a FIFA por essa falha.

Deixo-vos um vídeo com alguns dos melhores momentos de Shevchenko, onde é impossível não notar que era o avançado perfeito para os jogos grandes, para os derbys e para os clássicos.


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A problemática da ciência exacta

por Marquês, em 14.06.12
Pelas minhas contas (e desde logo tenho medo que muitos leitores deste blogue não consigam perceber o palavreado por mim escolhido), não é só a selecção nacional de futebol que tem problemas a nível das contas.

82% de negativas a Matemática na garotagem que passeia pelo 9.º ano do ensino português é aborrecido. Digo isto porque sempre gostei dessa que é a verdadeira ciência exacta e mestre da lógica. Não há cá respostas incompletas ou meio certas, ou está certo ou errado. Aliás, uma das maiores desilusões da minha infância, a par da mão do Abel Xavier no Euro2000, foi um Suficiente Mais nessa dita disciplina. Sempre fui do contra e como é normal não gostar de matemática, eu gostava. Obviamente, cheguei a ser insultado por dizer que gostava de matemática, tal como fui gozado por gostar de bróculos e apupado por gostar de usar um maiô justinho para fazer ginástica - as crianças são terríveis.


Contudo, este aborrecimento é preocupante para o futuro, a curto e longo prazo. A longo prazo temo que os jovens de hoje não consigam perceber quanto devem ao banco ou porque raio existe um tracinho no saldo bancário. E a curto prazo temo que 82% dos jovens portugueses não consigam perceber as probabilidades de Portugal chegar aos quartos-de-final do Euro2012. É que se Portugal ganhar e a Dinamarca ganhar, Portugal tem de marcar mais golos que os nórdicos para passar e até pode ficar em primeiro lugar do grupo mas depois também existe a Alemanha que ganhou a Portugal e tem uma diferença de golos de dois golos. Mas se Portugal perder e a Dinamarca perder ficam três equipas empatadas com três pontos mas se Portugal só perder por um golo de diferença passa na mesma. Mas depois Portugal também pode empatar e se a Dinamarca empatar ficam com os mesmos pontos e com os mesmos golos mas Portugal passa porque ganhou à Dinamarca com um golo do camisola 18... Nesta brincadeira toda, se ficarem três equipas empatadas com os mesmos pontos, só há festejos quando sair o calendário oficial com os jogos dos quartos-de-final...

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Nunca mais chega o Euro

por Marquês, em 07.06.12
Nunca mais chega o Euro...

Quero ver futebol, quero viver futebol, quero respirar futebol, quero falar de futebol, quero jogar futebol, quero chamar nomes ao futebol, quero rir do futebol, quero chorar do futebol, quero futebol...

O Euro2012 está a chegar. As melhores selecções da Europa, os melhores jogadores da Europa (com excepção do Giggs), os melhores árbitros da Europa, grandes lances, grandes jogadas, grandes fintas, grandes pormenores, grandes remates, grandes defesas, grandes cortes, grandes faltas, grandes, grandes, grandes... 80 mil pessoas num estádio a gritar, a cantar, a sorrir, a festejar, a vencer, a chorar, a empatar, a perder, a viver o futebol. Quero um bilhete de viagem para a Polónia, quero estar na primeira fila quando Portugal jogar, quando o Rui Patrício bater um pontapé de baliza, quando o Pepe fizer um carrinho, quando o Bruno Alves ganhar uma bola no jogo aéreo, quando o Moutinho inventar uma nova linha de passe, quando o Cristiano Ronaldo fintar um adversário, quando o Quaresma fizer uma trivela, quando o Coentrão investir pela ala esquerda, quando o Hugo Almeida marcar um golo, quando o Nani der um mortal, quando o Nélson Oliveira entrar em campo, quero estar no Euro, quero ser parte do Euro, quero ver de perto, quero sentir, quero emocionar-me, quero rir, quero rir muito, quero cantar bem alto o nosso hino e gritar PORTUGAL até me faltar o raio da voz e até me doer a garganta e até não ter forças para levantar a bandeira. Quero dizer à Europa e ao Mundo que sou português, quero dizer que um dia também vou vencer, quero dizer que as derrotas não entram no vocabulário.

Quero sentir na pele o prazer de entrar num relvado com 80 mil a cantar por mim, sentir o cheiro da relva, sentir o peso da camisola, sentir a redondinha no pé, sentir o apito do árbitro, sentir cada golo, sentir o prazer imenso de representar um país perante um continente, sentir o prazer de vencer em nome de todos os milhões de portugueses, sentir o gosto da vitória, sentir o suor a escorrer pela cara, sentir as pernas cansadas e esquecer a dor, sentir a força de uma nação. Mandem-nos logo para casa, percam os três jogos, mas joguem, divirtam-se, lutem, mostrem garra e paixão, sintam a honra do símbolo e a alegria de todos nós...

Até lá, bandeira preparada, t-shirt no tronco, mão no coração e pulmões a todo o gás. Quando soar o hino não seremos 11, seremos 20 milhões a cantar pelos "Heróis do mar", seremos um país unido na tristeza e na alegria por um bem maior, por todos nós. Que Paulo Bento e companhia sinta o Euro como eu o sinto, que vivam o que eu queria viver, que lutem até ao último fòlego deles e que lutem até ao último fòlego dos 20 milhões de portugueses espalhados pelo Mundo. Dia 9 de Junho não seremos 11 nem 11 milhões, seremos o Mundo!

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