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Ultimamente tenho de me levantar mais cedo

por Marquês, em 22.08.12
Ultimamente redescobri a maravilha das letras, subentenda-se, voltei a ler. Este mundo imerso em tecnologia e computadores e videojogos e televisão e cinema e telemóveis, há tanta oferta, tanta coisa para fazer que deixei de ler. Esqueci-me do prazer que dava comprar um livro, saborear as suas letras, imaginar as situações que lemos, rir com os personagens. Enfim, posso agradecer aos meios de transporte públicos por me permitirem ler cerca de 45 minutos por dia.

Contudo, e até seria estranho eu estar aqui sem discordar ou revoltar-me contra algo, desdenho aqui e agora contra duas senhoras que me fazem levantar 10 (!) minutos mais cedo! Pois bem, a carreira que me leva ao local de labuta, transporta outras pessoas. E no meio dessas pessoas há homens, há mulheres, há gordos, há magros, há raparigas feias, raramente há raparigas bonitas, e há duas senhoras. Ora, essas duas senhoras, cujos nomes não vou confidenciar, digamos que se chamam Elvira e Albertina, levam o percurso todo na galhofa, com o volume a roçar no máximo e com direito a distorção. Eu não me importo que as pessoas falem à minha volta, o ar é de todos, parafraseando os Gato Fedorento. Mas a Albertina tem uma voz esganiçada e irritante, e a Elvira, tem uma voz ainda mais esganiçada e irritante. Para o leitor ter noção, o som de surpresa da Elvira é semelhante aos gritos do Castelo Branco quando o Alexandre Frota lhe pegava ao colo. E aquelas conversas, para além de serem impróprias para quem acabou de sair do aconchego do leito, são irritantes. Primeiro, tentei alocar-me noutro ponto estratégico, onde os meus tímpanos estivessem a salvo de vozes tão pouco agradáveis, não resultou. O único sítio seguro está ocupado por um senhor que se julga manda-chuva do veículo e que não deixa ninguém trocar de lugar com ele, um tal de motorista. De seguida, tentei concentrar-me mais na leitura, entrar dentro do livro e esconder-me, não resultou, as letras transformam-se em notas musicais descoordenadas e os olhos choram de amargura. Por fim, decidi fazer contas ao meu dia e levantar-me mais cedo, apanhar a carreira imediatamente antes e seguir em segurança.

Entretanto, sei tudo sobre a Elvira e a Albertina, cujos nomes verdadeiros não vou revelar. Uma limpa casas particulares e tem dois filhos dos quais um tem quatro anos e o outro sete que ficam com a mãe que também mora lá em casa e costumam portar-se bem quando estão a dormir mas quando acordam são uns diabos e o mais velho que já vai à escola está sempre a bater nos outros meninos e a senhora está sempre a ser chamada ao conselho directivo por causa do catraio e quando chega a casa tem de lhe dar um raspanete mandá-lo tomar banho e ainda o ajuda a fazer os TPC enquanto o pai está no estrangeiro a trabalhar nas obras e todos os meses manda uns trocos para ajudar a pagar as contas e deve voltar no final do Verão porque a vida está difícil. A outra senhora é um pouco mais velha e trabalha num restaurante num centro comercial e tem duas filhas e um filho e a mais velha já está no secundário e tem boas notas mas os mais novos são mal comportados e são gémeos o rapaz só quer jogar à bola na rua com os amigos e chega tarde todo sujo e nunca faz os deveres nem arruma o quarto e a rapariga mete as culpas no mano e acaba por também se desleixar e está sempre agarrada ao computador e no fim sobra tudo para a mais velha que até deve ser jeitosa tendo em conta os elogios da mãe mas passa a tarde na casa do namorado a estudar (pensa   a mãe) e quando chega a casa ainda ajuda nas limpezas da casa e cozinha para os irmãos quando a mãe chega mais tarde.

E é por isto, que eu agora me levanto mais cedo 10 minutos! Contudo, enquanto escrevia estas linhas, fiquei com saudades da Elvira e da Albertina, nomes fictícios. Acho que amanhã vou dormir mais um pouco para apanhar a mesma carreira que as senhoras e manter-me a par das novidades, só para saber se está tudo bem com as respectivas famílias (se bem me lembro a mãe da Albertina tinha passado mal e o médico mandou-a ficar em casa a repousar).

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Eu e o Tio Patinhas

por Marquês, em 30.05.12
No meu último texto falei do Tio Patinhas, um dos heróis da minha infância. Sempre gostei de ler, ler um livro, um livro era uma verdadeira obra de arte que estava ali, que me ensinava sempre algo, que ficava bonito na estante juntamente com outras obras já lidas ou em vias de, desde pequeno que criei esse hábito que se foi perdendo com o aparecimento da Internet lá por casa. Até ter acesso cada vez menos limitado à Internet, fui perdendo o gosto pela leitura, pelo folhear de um livro, pelo cheiro a papel e conhecimento. 

As aventuras vividas na primeira pessoa nas terras dos vikings ou na Roma Antiga, estive em todo o Mundo sem sair do sofá ou do quente da cama. Viajava numa cápsula mágica chamada: livro. E a banda desenhada fez parte da minha literatura infantil. Há quem se recorde de tempos em que eu não lia, eu devorava livros. E devorar é uma palavra que se adequa, pois pegava no dito cujo e só o largava depois de virar a última página. Noites sem dormir ou tardes sem lanchar, nem dava pelo tempo passar enquanto estava a ver as aventuras de tantos personagens, entre eles o Tio Patinhas. O Mickey, o Pateta, o Donald e afins tinham a sua piada mas o Tio Patinhas era o que mais me fascinava. Quem sabe pela sua riqueza, ou pela sua sovinice, ou pela sua má vontade. O raio do pato fascinava-me! Vi o Tio Patinhas descobrir ser herdeiro de um castelo na Irlanda ou aventurar-se no meio de tribos africanas ou entrar em corridas de carros ou, ou, ou, ou, o certo é que o pato de óculos sem hastes fazia tudo. E eu queria ter um pouco de Tio Patinhas. Ou então queria apenas ser rico e poder mergulhar no meio de moedas de ouro...


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