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Jogos Olímpicos vistos por um tuga

por Marquês, em 21.08.12

Muito se desdenhou sobre a participação lusa nos Jogos Olímpicos Londres 2012, falto eu escrever algumas linhas sobre isso. E assumo aqui a posição, irremediavelmente, do contra. Contra os anti-portugueses, contra os idiotas cujo desporto praticado é o zapping, contra os preguiçosos, contra os de mau carácter e pouca inteligência. Criticar negativamente a prestação dos atletas portugueses em Londres é ser estúpido.

Primeiro, quem já praticou desporto sabe o quão fácil é conseguir apoios e patrocínios, para treinar, para vestir, para comer. A título de exemplo, alguém se lembra de Teresa Machado? Recordista nacional de lançamento do disco, finalista nos Jogos Olímpicos de Atlanta e Sidney, esteve ainda em Barcelona e Atenas, uma das atletas com mais presenças na Taça da Europa? Pois, aos 33 anos terminou a sua ligação ao Sporting, em 2003, mas ainda alimentava o sonho de ir a Atenas. Continuou a treinar, esteve a trabalhar em limpezas em moradias e conseguiu marcar presença na Grécia! Escusado será dizer que, num país com cultura desportiva, esta Mulher teria um ordenado como atleta de alta competição.
ver notícia aqui - http://www.record.xl.pt/interior.aspx?content_id=309373

Segundo, falar mal é muito fácil. Todos somos bons, do lado de cá do televisor. Todos os atletas que vão aos Jogos Olímpicos, ou a qualquer prova desportiva internacional, têm o peso de 10 milhões de portugueses aos ombros, carregam a bandeira mais linda do mundo, dão o corpo e a cara por um país. Todos sentem um orgulho imenso em representar Portugal, todos querem ganhar por Portugal, todos querem dar uma alegria a Portugal. Que ninguém atire à cara da Telma Monteiro que ela perdeu de propósito ou que o Marco Fortes não se esforçou. Todos os atletas, profissionais ou amadores, dão sempre o seu melhor e só pensam em fazer melhor. Nem sempre é possível mas ninguém mais do que eles queria ganhar uma medalha, subir ao palco, ouvir o hino do seu país num estádio com 80 mil pessoas.

Terceiro, ninguém vai aos Jogos Olímpicos se for mau. O recordista mundial da maratona, o queniano Patrick Makau, não foi convocado para Londres. O etíope Gebresalassie, campeão olímpico dos 10.000m em Atlanta e Sidnei, não conseguiu apurar-se para Londres. São campeões, os melhores do mundo, e não foram. Mas os portugueses, que, segundo os seus compatriotas, foram lá passear, conseguiram, por mérito próprio, marcar presença no maior evento desportivo do mundo.

Pequenos pormenores que fazem uma grande diferença. Fiquei triste com os comentários que vi durante três semanas de puro espectáculo. Somos um país pequeno. Já dizia o José Cid, "Se Elton John (ou Michael Phelps ou Usain Bolt ou Allyson Felix) tivesse nascido na Chamusca, não teria tanto sucesso como eu.".

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Eu nos Jogos Olímpicos

por Marquês, em 01.08.12

Os Jogos Olímpicos são o maior evento desportivo do mundo. Três semanas de elevada intensidade e com a presença dos melhores desportistas do planeta, procedidos pelos Paralímpicos (que tendem a ser ignorados, mas isso ficaria para outro testamento).

Enquanto acompanho, pela televisão e pela internet, as prestações lusas e dos demais que me interessam, também sou rapaz para sonhar em ser porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos. Quem não adorava carregar a bandeira nacional na abertura do maior evento desportivo do mundo? Até porque eu, e isto é um facto, já fui desportista! E na altura acreditava mesmo que podia chegar ao nível do Obikwelu! Era bastante rápido, tinha uma aceleração estonteante e uma velocidade de ponta equiparada à de uma Zundapp 3, a patinar numa subida... Tive a sorte de conhecer pessoas impecáveis, gente cinco estrelas e ainda consegui tornar-me amigo de muitos adversários com os quais lutava pelo primeiro lugar, ou pelo segundo, ou vá, pelo penúltimo lugar. Ganhei uma corrida ou duas, amealhei uma mão cheia de medalhas, um jovem aspirante a velocista.

Como era bom moço, participei em várias estafetas pelo meu clube. Maioria a nível regional, mas lembro-me de ter participado em, pelo menos, duas estafetas a nível nacional! E, como não podia deixar de ser, nenhuma das duas correu como seria esperado. Em juvenil, a minha estreia em competições nacionais - Apuramento nacional de clubes, Seixal. Provas: 100m - eliminatórias e 4x100m. Na prova de 100m precisava de doping, e nem era para ganhar, só para não passar vergonhas. Tinha menos probabilidades de realizar uma marca que desse pontos à minha equipa do que a Coreia do Norte de ganhar o Mundial 2010. O objectivo pessoal era bater o meu melhor tempo e não ficar em último. Consegui não ficar em último! E na estafeta, um conjunto remendado que se apresentou ali, íamos tentar algo. Eu, o mais novinho, ia partir da pista 8, a mais distante do juiz de partidas. Olhei para o céu, estava um bonito dia, céu limpo, calor, estava cheio de "pica", o juiz grita "aos seus lugares", dou uma palmada em cada coxa, seguro firme o testemunho, coloco os pés nos blocos, tudo em condições, mãos junto à linha, lanço um último olhar ao chão e murmuro para mim três ou quatro palavrões de incentivo, de seguida o juiz vai gritar "prontos" (que é aquela posição em que os atletas levantam o rabo) e depois o tiro. E estava eu concentradíssimo quando oiço um tiro e veja uma manada de búfalos a levantar pó ao meu lado. O juiz tinha dado a partida e eu não ouvi o "prontos", que é como quem diz, não estava pronto para partir. Uma desilusão, uma tristeza enorme, fiquei confuso, atrapalhei-me, ainda corri o mais rápido que pude mas já não foi o suficiente. Reclamamos mas não serviu de nada, borrei a pintura.

No mesmo ano, prova - Campeonato Nacional de Juniores. Não tinha mínimos para ir mas o treinador achou por bem levar-me à estafeta. Era a nossa "Dream Team". Tri ou tetracampeões do Algarve, já nem me lembro, mas éramos os melhores. Os deuses estavam connosco. Póvoa de Varzim, pico do Verão, calor insuportável, vento forte, condições horríveis. Porém, nada demovia a nossa convicção, tínhamos equipa para lutar pelo top 8, talvez top 5. Mais uma vez, o novinho na partida e novamente pista 8. Desta vez não podia falhar. Duas palmadinhas nas coxas e uma palmada no peito musculado, estava em boa forma. "Aos seus lugares", cá vou eu. Pés nos blocos, joelho apoiado, mãos na linha, ao mínimo murmúrio levantava-me e esperava o tiro. "Prontos", ouvi e disse presente, "estou pronto", tiro e lá vou eu desalmado a curvar. Parecia um perdigueiro atrás de um coelho. Entreguei bem o testemunho e estávamos na luta pela frente da eliminatória. No último percurso, recta da meta, tudo a gritar, tudo a empurrar mentalmente os adversários para trás e o nosso colega para a frente, faltavam 60m para a meta e... estiramento na coxa (ou algo parecido). O rapaz começa a coxear, agarra-se à perna e termina a corrida em último a queixar-se de dores. Nova desilusão.

Mas agora tenho novo objectivo: natação. Prepara-te Michael Phelps, quando eu aprender a nadar nunca mais ganhas uma douradinha!

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