Rúben Faria, 38 anos, algarvio (cada vez sou mais orgulhoso por ter nascido neste Reino), piloto de motos, vice-campeão do Dakar2013.
Facto: a missão dele era ajudar Cyril Despres a vencer o seu quinto Dakar - missão cumprida.
Facto: liderou o Dakar e "perdeu" a liderança para o francês - profissionalismo.
Facto: queria terminar no top 5 - ficou em 2.º.
Facto: tivemos quatro pilotos portugueses no top 10 - em equipas estrangeiras com patrocinadores estrangeiros.
Facto: à chegada a Portugal todos os jornalistas conheciam Rúben Faria e estavam fãs à sua espera no aeroporto - à partida ninguém fez alaridos e só Hélder Rodrigues interessava.
 |
Rúben Faria (11) ao lado de Despres (1). |
Quando saí da Universidade tinha uma visão diferente de muitas coisas no mundo, uma visão mais elaborada, mais atenta, mais picuinhas. Passei a tomar mais atenção aos detalhes e aos pormenores, deixei de ter uma visão ingénua sobre o que acontece à minha volta. No desporto, esse mundo que tanto adoro, comecei a reparar em coisas insignificantes como a expressão dos desportistas, os movimentos, as suas acções, as suas decisões. Consigo adivinhar lances ou jogadas durante o desenrolar das mesmas. Ainda não consigo prever o futuro mas decerto que há seis anos atrás tinha um olhar diferente sobre as coisas. E também passei a reparar no público. Nos estádios de futebol, para puxar o exemplo mais típico do povo português, existem adeptos e grupos de adeptos ou claques que puxam pelas equipas e pelos seus ídolos (ou que simplesmente chamam nomes e insultam os árbitros mas isso agora não interessa). Porém, enquanto que em Inglaterra e na Alemanha, pelo que vejo na televisão por cabo, os adeptos puxam pelas equipas do início ao fim, em Portugal são as equipas que puxam pelos adeptos. Se a equipa está a jogar mal os adeptos adormecem mas se a equipa faz uma jogada fantástica ou marca um golo, o estádio ganha vida, um imenso ruído torna o ambiente fantástico e durante uns segundos parece que estamos a viver o jogo, depois tudo volta a acalmar.
Com o Rúben aconteceu a mesma coisa. Era apenas mais um a caminho da América do Sul mas a sua magnífica prestação cativou os olhos da imprensa e de um país, somou pódios, liderou a prova-rainha de todo-o-terreno e terminou na melhor classificação de um português na prova. À chegada a Portugal era o maior! Aproveitou para mostrar a sua humildade, ao dizer que a sua missão sempre foi ajudar o seu companheiro e que se fosse preciso parar para que Despres ganhasse, ele parava e cedia a vitória, e para deixar uma pequena mensagem ao país "três pilotos de motos no top 10 e nenhum patrocinador português". Como te percebo bem compatriota, como te percebo bem. Esta semana foi um herói, candidato a maior figura do desporto nacional, esteve naqueles quadradinhos das capas dos jornais que costumam ser dedicados aos filhos que dão tiros de caçadeira nos pais, 15 minutos de merecida fama e o público vai deixar de puxar por ele até que ele volte a puxar pelo público. Triste sina esta de nascer português. Mas o desporto motorizado português está bom e recomenda-se! Miguel Oliveira, no Moto GP, e Félix da Costa, na Fórmula 1, são as promessas que se seguem, atentem no que vos digo! Bom fim-de-semana amigos!