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Vou escrever um livro! - Parte I.I

por Marquês, em 26.11.12
Há umas semanas deixei aqui para vocês um pequeno excerto do primeiro capítulo de uma futura grande obra de arte da literatura portuguesa alternativa. Antes de mais deixem-me elucidar que não penso, e seria realmente parvo, ganhar um prémio nobel por tal rabisco nem penso ser um ícone da literatura portuguesa. Até porque, para ser um ícone ou ganhar uma estatueta, preciso de uma história de vida comovente ou de ser estúpido. E agora vocês podem dizer que isso tem uma pontinha de verdade, e tem, mas não é suficiente para convencer o júri. Sei ler, tirei uma licenciatura, nunca passei em fome em criança nem levei porrada dos meus pais, tenho um trabalho sério e gosto de mulheres. Até posso ser um pouco estúpido mas a minha vida não tem grande interesse. Sou um gajo normal, por assim dizer.

Porém, e voltando ao tema, tenho andado com dificuldades em avançar na história e tenho-me limitado a escrever tópicos para abordar nas 150 páginas que ainda estão por escrever. Diversos tópicos, novos personagens, momentos-chave, enredos paralelos, dramas, algum humor, muita acção... Enfim, um livro a sério sem histórias de amor nem finais felizes. Não gosto dessas coisas. Podem chamar-me insensível ou até antiquado mas não gosto de finais felizes, previsíveis e vazios de interesse. Não poucas vezes dou por mim a ler uma história ou a ver um filme e, num quarto de hora, já sei exactamente como vai acabar. É aborrecido e eu não aprecio cenas aborrecidas. E quem diz cenas diz coisas, também não gosto de coisas aborrecidas. Portanto, garanto que o meu livro não será aborrecido! Pelo menos para mim. Ontem escrevi um pequeno momento que irei inserir no capítulo dois que me deixou a rir desalmadamente durante uns bons três minutos!

Pois bem, no texto - "Vou escrever um livro! - Parte I" ficaram a conhecer um dos personagens principais, cujo nome não revelei na altura, nem vou revelar agora. Mas vou desvendar um pouco sobre esse personagem, só para aguçar o apetite da mulherada! Esse personagem, o "padrinho", é uma mistura de Casanova com Zezé Camarinha, pêlo no peito, sucesso com as mulheres e o QI de uma ervilha. Moreno e gostoso, o "padrinho" será o personagem secundário com mais acção na história e vai estar presente em alguns momentos bastante hilariantes. Depois de dançar com uma loira e uma morena, o "padrinho" vai ser vítima de um sequestro! Exactamente, um sequestro! Com perseguições de carro, tiros, ameaças, gorilas vestidos de seguranças, crocodilos e até anões! Vai ter carros de alta cilindrada e vespas a acelerar pelas estradas nacionais deste Portugal com direito a explosões! O rapaz será levado para um armazém escondido onde será torturado! O motivo: não vou contar! Senão depois já ninguém vai querer comprar o livro e eu gostava de vender pelo menos cinco exemplares, sem contar com a minha mãe.

Espero que isto vos deixe alguma água na boca, e ainda mais espero que limpem a boca para não sujarem o teclado. E agora vou almoçar porque isto das segundas-feiras dá uma larica à uma da tarde que nem é tarde nem é cedo para ir trincar uma fatia de pão e um copo de vinho, com moderação porque sou um adulto responsável e tenho de voltar à labuta daqui a pouco. Boa semana para vocês, e para mim!

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Ultimamente tenho de me levantar mais cedo

por Marquês, em 22.08.12
Ultimamente redescobri a maravilha das letras, subentenda-se, voltei a ler. Este mundo imerso em tecnologia e computadores e videojogos e televisão e cinema e telemóveis, há tanta oferta, tanta coisa para fazer que deixei de ler. Esqueci-me do prazer que dava comprar um livro, saborear as suas letras, imaginar as situações que lemos, rir com os personagens. Enfim, posso agradecer aos meios de transporte públicos por me permitirem ler cerca de 45 minutos por dia.

Contudo, e até seria estranho eu estar aqui sem discordar ou revoltar-me contra algo, desdenho aqui e agora contra duas senhoras que me fazem levantar 10 (!) minutos mais cedo! Pois bem, a carreira que me leva ao local de labuta, transporta outras pessoas. E no meio dessas pessoas há homens, há mulheres, há gordos, há magros, há raparigas feias, raramente há raparigas bonitas, e há duas senhoras. Ora, essas duas senhoras, cujos nomes não vou confidenciar, digamos que se chamam Elvira e Albertina, levam o percurso todo na galhofa, com o volume a roçar no máximo e com direito a distorção. Eu não me importo que as pessoas falem à minha volta, o ar é de todos, parafraseando os Gato Fedorento. Mas a Albertina tem uma voz esganiçada e irritante, e a Elvira, tem uma voz ainda mais esganiçada e irritante. Para o leitor ter noção, o som de surpresa da Elvira é semelhante aos gritos do Castelo Branco quando o Alexandre Frota lhe pegava ao colo. E aquelas conversas, para além de serem impróprias para quem acabou de sair do aconchego do leito, são irritantes. Primeiro, tentei alocar-me noutro ponto estratégico, onde os meus tímpanos estivessem a salvo de vozes tão pouco agradáveis, não resultou. O único sítio seguro está ocupado por um senhor que se julga manda-chuva do veículo e que não deixa ninguém trocar de lugar com ele, um tal de motorista. De seguida, tentei concentrar-me mais na leitura, entrar dentro do livro e esconder-me, não resultou, as letras transformam-se em notas musicais descoordenadas e os olhos choram de amargura. Por fim, decidi fazer contas ao meu dia e levantar-me mais cedo, apanhar a carreira imediatamente antes e seguir em segurança.

Entretanto, sei tudo sobre a Elvira e a Albertina, cujos nomes verdadeiros não vou revelar. Uma limpa casas particulares e tem dois filhos dos quais um tem quatro anos e o outro sete que ficam com a mãe que também mora lá em casa e costumam portar-se bem quando estão a dormir mas quando acordam são uns diabos e o mais velho que já vai à escola está sempre a bater nos outros meninos e a senhora está sempre a ser chamada ao conselho directivo por causa do catraio e quando chega a casa tem de lhe dar um raspanete mandá-lo tomar banho e ainda o ajuda a fazer os TPC enquanto o pai está no estrangeiro a trabalhar nas obras e todos os meses manda uns trocos para ajudar a pagar as contas e deve voltar no final do Verão porque a vida está difícil. A outra senhora é um pouco mais velha e trabalha num restaurante num centro comercial e tem duas filhas e um filho e a mais velha já está no secundário e tem boas notas mas os mais novos são mal comportados e são gémeos o rapaz só quer jogar à bola na rua com os amigos e chega tarde todo sujo e nunca faz os deveres nem arruma o quarto e a rapariga mete as culpas no mano e acaba por também se desleixar e está sempre agarrada ao computador e no fim sobra tudo para a mais velha que até deve ser jeitosa tendo em conta os elogios da mãe mas passa a tarde na casa do namorado a estudar (pensa   a mãe) e quando chega a casa ainda ajuda nas limpezas da casa e cozinha para os irmãos quando a mãe chega mais tarde.

E é por isto, que eu agora me levanto mais cedo 10 minutos! Contudo, enquanto escrevia estas linhas, fiquei com saudades da Elvira e da Albertina, nomes fictícios. Acho que amanhã vou dormir mais um pouco para apanhar a mesma carreira que as senhoras e manter-me a par das novidades, só para saber se está tudo bem com as respectivas famílias (se bem me lembro a mãe da Albertina tinha passado mal e o médico mandou-a ficar em casa a repousar).

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Andar de camioneta até é engraçado

por Marquês, em 24.05.12
Cada vez gosto mais de ir de camioneta para o trabalho. Mudei recentemente de local laboral e, consequentemente, apanho uma carreira diferente. E muito mais animada. É impossível chegar ao trabalho aborrecido com o facto do maldito despertador ter tocado à mesma hora de sempre e da nossa cama nos ter dado um valente chuto no traseiro. A carreira que apanhava antes era muito aborrecida, pessoas sozinhas a caminho do meio da capital com olhar cabisbaixo. Agora, que trabalho na periferia, vejo gente alegre, gente conversadora, gente amigável, gente a sorrir, gente bem e mal vestida, gente jovem, até os velhotes têm mais saúde e as pessoas aparentam ser mais bonitas. Infelizmente, não são. Apenas são menos infelizes.

Às vezes até me apetece desatar a abraçar aquela gente tão porreira que passa e roça no meu corpo deixando um cheiro que nem sempre é agradável. Só falta convencer o senhor motorista a não acelerar tanto nas rotundas e a parar nos semáforos. Isto da malta jovem andar sempre a jogar aqueles videojogos em que se roubam carros, se sobem passeios para cortar caminho e se atropelam velhotas afecta os condutores das camionetas. Estou convencido que nas aulas iniciais vão para um simulador "quitado" com o GTA ou o Need for Speed. Qualquer dia as camionetas têm "ailerons", jantes brilhantes, e nas rectas os motoristas dão um "cheirinho" de nitro para encurtar a viagem...


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Valha-nos o vinho com o iva baixinho

por Marquês, em 11.05.12
Cultura (segundo priberam.pt)
s. f.
1. Acto, arte, modo de cultivar.
2. Lavoura.
3. Conjunto das operações necessárias para que a terra produza.
4. Vegetal cultivado.
5. Meio de conservar, aumentar e utilizar certos produtos naturais.
6. [Figurado]  Aplicação do espírito a (determinado estudo ou trabalho intelectual).
7. Instrução, saber, estudo.
8. Apuro; perfeição; cuidado.

Na teoria, cultura (o ponto 7 será o mais indicado para agora) deveria estar ao alcance de todos. Portugal precisa de jovens, e adultos, instruídos, com educação, com ambição, entre muitas outras qualidades apreciadas, e com cultura. Toda a gente pensa isso. A minha avó, que por força da sua vontade, sabe ler, mas não conhece Marx ou Descartes e talvez nunca tenha entrado num cinema ou assistido a uma peça de teatro e pouco conhece de música para além do belo baile, contudo, é a primeira a me encorajar a ler um livro ou a ir ao cinema com os meus amigos. E porquê? Porque sabe a importância que a “cultura” tem nos dias de hoje e a importância que terá no meu futuro.

Ainda me lembro de passar férias em casa da minha avó, que muito orgulhoso digo que fica no monte e longe de tudo, e trocar um livro por um jogo de futebol na televisão. Era fatal, vinha puxão de orelhas! “Que te ensina a bola? Estavas tão entretido a ler o livro que te ensina muito mais”, dizia ela. Sem maldade, pois sempre soube que o desporto era a minha grande paixão e, quando mais tarde enveredei por uma área desportiva nos meus estudos e ofícios, foi com alegria que me deu forças. Contudo, o simples princípio que uma senhora com pouca instrução, penso que terminou a antiga quarta classe entre o cuidar do gado e as tarefas do campo, apresenta é extraordinário. Ela tem pena de não ter lido mais livros, de não ter viajado mais, de não ter falado com mais pessoas, de não ter aprendido mais. E, por isso, quer que os seus netos saibam mais e mais.


Faz um ano que deixei a cidade onde estudei. Último semestre com direito a estágio e abalei para Lisboa, atrás da minha vontade – assessoria de comunicação desportiva. Lembro-me que na altura, como qualquer neto babado, me fui despedir da minha avó. Mesmo sabendo que eu não ia assim para tão longe, e até já tinha estudado fora, a pobre senhora com semblante carregado de muitos anos de tristezas, e alegrias, e mãos enrugadas puxou-me contra o seu peito e apertou-me com força. A sério, naquele momento senti-me um Homem, como se estivesse a fazer as malas para partir para a tropa ou para a Guerra do Ultramar. Numa versão mais rebuscada do momento, direi que senti um calor enorme a ser transmitido naquele apertão. Desde então, sempre que lá vou encontro uma simpática velhota que me questiona com um olhar penetrante, como se tentasse absorver em mim os conhecimentos das minhas vivências. Faz-me acreditar que, nascido num outro leito, poderia ter sido directora de uma empresa, tinha vontade e inteligência para tal. No entanto, não teve oportunidade de estudar mais, de aprender mais, de adquirir mais cultura, e trocou o cultivo da mente pelo cultivo da terra, o computador pela enxada e a escola pela lavoura.


E isto remete-me para o primeiro ponto desta publicação (ou post para a malta jovem que se rendeu aos estrangeirismos): a cultura. Eu estudei mais que a minha avó, vi mais filmes, li mais livros, viajei mais (mesmo sem nunca ter ido mais longe que Córdoba ou Badajoz), conheci mais pessoas. E porque raio estou a falar no passado? Tenho 22 anos, uma vida pela frente, talvez duas vidas pela frente, tenho tanto para ler, ver, ouvir, dizer ou cheirar, mas falei no passado. Mas sinto que me querem cortar as asas. Ora, já fui um perdido pela cultura. O facto de entrar numa livraria ou num cine-clube era um atentado à minha carteira. Sempre que ia a uma livraria, comprava um ou dois livros. Independentemente do seu conteúdo, era cultura e conhecimento que eu estava a comprar. Há cerca de dois anos, deixei de entrar em livrarias. A razão? A carteira, pobre coitada não está em condições de sofrer mais atentados. A comida na mesa, as contas da casa e o alimento do veículo levam tudo e o fim do mês é um oásis. Como se não bastasse, vêm de lá os mandões pedir esforços à malta. De um lado oiço incentivos aos estudos, ao cultivo da mente. Do outro lado, vejo as propinas a aumentar (deste mal já me safei) e vejo o iva a subir na cultura e no entretenimento. Neste carrossel de contradições, valha-nos o vinho que manteve o iva baixinho. E bem precisamos de uma boa pinga, para que as palavras dos mandões façam sentido. Avó, prepara-me um garrafão de vinho para eu meter na mala, antes que a ASAE feche a adega por falta de condições...

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