É senso comum que existem certas particularidades que diferenciam os homens das mulheres. Não sendo totalmente correcto, até porque sou dos que defende que os homens e as mulheres não são todos iguais, existem certas particularidades que encaixam na grande maioria das pessoas do mesmo sexo.
E agora vou debruçar-me sobre isso mesmo. Para começar, estou a tirar uma formação numa área ligada ao futebol e, na primeira aula, o formador deu algumas sugestões para nós exercitarmos o nosso cérebro. Coisas simples como lavar os dentes com a mão canhota ou comer com os talheres trocados podem ser acções bastante interessantes para obrigar o nosso cérebro a trabalhar mais em situações do dia-a-dia e para as quais já temos processos e rotinas assimiladas. Achei interessante, e até comecei a lavar os dentes com a mão esquerda - até agora posso dizer que já sujei duas blusas com pasta de dentes e tenho um hálito menos fresco contudo, acredito que com a prática estarei pronto a desempenhar esta tarefa com igual mestria quer à destro quer à canhoto!
Outra sugestão, porém, deixou-me mais apreensivo. Querem saber qual é? Cambada de curiosos! Parecem o meu gato, sempre a meter os bigodes em todo o lado. Raio do gato tem um fetiche qualquer com portas. Assim que vê uma porta a abrir - zingas! - lá vai ele explorar o novo recanto que se abre. Seja um armário, a porta de uma divisão da casa, a porta da varanda, a porta da rua, uma caixa, seja o que for, o estúpido do felino vai saltar lá para dentro à Indiana Jones para explorar, sempre a explorar. Mas a sugestão era outra: mudar o caminho que se faz todos os dias, por exemplo, experimentar uma nova estrada para o trabalho. E quanto a isso, achei má ideia. Isto porquê, porque eu, sendo homem, não pergunto indicações a ninguém e, como tal, já andei perdido algumas vezes. De modos que, experimentar um caminho novo pode dar mau resultado. Uma vez, queria eu ir ter a Alfragide mas enganei-me na saída e, sorte a minha, quando dei por mim estava na Damaia. Nada contra o sítio, até pareceu bastante bonito, mas andei por bairros onde só entra o corpo de intervenção e não me pareceu boa ideia pensar em mudar o caminho que sigo para o trabalho todos os dias por uma aventura ao vivo por reportagens do jornal da TVI. Lavar os dentes com a mão esquerda, ainda aceito, mas arriscar chegar ao trabalho só de cuecas, não me pareceu boa ideia. Fica a sugestão.
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Eu não sou esquisito. Mas, por vezes, sou picuinhas ou comichoso. Gosto disto, não gosto daquilo, tolero algumas coisas, odeio muitas coisas. Tenho algumas preferências clubísticas, alguns gostos musicais, alguns gostos fílmicos e literários. Gosto de cenas que pouca gente gosta e odeio alguns sucessos de bilheteira. Bem, no fundo, todos somos um pouco assim.
E é curioso. Não sou psicólogo nem nada que se pareça. Observação escusada, até. Porém, seria idiota dizê-lo sem um sentido. Não percebo muito de pessoas, mas não há pessoas iguais. É impossível traçar um perfil igual a outro. Sou moreno, oiço José Cid e gosto dos filmes do Tarantino. Mas nem todos os ouvintes de Cid gostam de Tarantino, ou vice-versa.
Afinal, o que é cultura? Cultura literária, cultura fílmica, cultura musical... cultura. Quem decide o que é cultura? Serei anti-cultura portuguesa se não gostar de Saramago? E há muito que digo que se enganaram no prémio. Um serralheiro mecânico ganhou um prémio nobel da literatura, enfim. Até o Ministério da Cultura fecharam e abriram um gabinetezito num vão de uma escada para tratar do cultivo dessa coisa. Autores, músicos, realizadores, actores. Que classe é essa? Será Morangos com Açúcar, um sucesso de bilheteira, o melhor filme português de todos os tempos? Será Tony Carreira o porta-estandarte da música portuguesa? Será tudo o que é português mau? Concordo com tudo e ainda discordo muito mais. As nossas diferenças fazem com que não sejamos todos iguais.
E por isso não troco um concerto de José Cid por um concerto dos Pearl Jam nem tão pouco um livro sobre futebol por um best-seller do Dan Brown. Ainda bem que posso escolher. Agora está na moda ver reality shows vazios de cultura, e todas as semanas batem recordes de audiências. Eu vejo, às vezes, e não tenho vergonha de o dizer. Riu-me daquelas palhaçadas, aprecio as jeitosas que se passeiam em trajes menores, faço piadas com eles e uso frases no meu dia-a-dia. Se calhar, como disse em tempos um professor que tive, "vejo... para descultivar o cérebro". Também deve fazer falta. Até a terra, quando não descansa, deixa de ser produtiva. É isso mesmo que vou fazer. Vou ligar a tv e descultivar um pouco o cérebro.
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